Os recentes contatos entre o governo do Afeganistão e os militantes do Taleban têm pouco a ver com a reconciliação e envolve muito mais troca de prisioneiros por dinheiro, disseram nesta segunda-feira, 25, diplomatas e observadores ao jornal britânicoThe Guardian.
As fontes disseram que os contatos com o Taleban ocorrem há anos e refletem como a guerra ocorre no Afeganistão, onde negociações e batalhas acontecem simultaneamente. Os encontros, porém, foram celebrados como passos para a reconciliação e o fim da luta contra os insurgentes no país e como medidas para mostrar que Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e as forças afegãs conseguem ganhos estratégicos na guerra.
Nas últimas semanas houve notícias de que comandantes do Taleban teriam se encontrado com membros do governo afegão para negociar a paz de acordo com o plano de reconciliação lançado pelo presidente Hamid Karzai.
Mas as negociações, segundo as fontes, não tiveram representantes de peso do Taleban e não trataram da apresentação de propostas para o fim da luta armada. Em uma delas, Karzai teria oferecido dinheiro a um taleban para que ele convencesse seus interlocutores a pregar o fim da guerra.
Segundo as fontes, as reuniões não tiveram representantes da Quetta Shura, a cúpula do Taleban, que portanto não apresentou suas visões. Comandantes da rede insurgente Haqqani, considerada a mais violenta do Afeganistão, chegaram a conversar com representantes do governo, mas as conversas se mostraram improdutivas.
Michael Semple, ex-enviado da União Europeia e da Organização das Nações Unidas (ONU), disse que "esse tipo de coisa ocorre há muito tempo. É a forma como Karzai opera, e é o padrão de operação no Afeganistão". "Se fosse um processo sério, estaríamos mantendo tudo em segredo", disse Semple, questionando o fato de que as reuniões têm vazado constantemente na imprensa.
O Taleban nega quaisquer contatos com o governo afegão, conforme vários veículos de imprensa tem noticiado. Segundo os insurgentes, "as marionetes afegãs e seus chefes ocidentais querem fazer parecer que as negociações são um progresso e que as milícias estão prontas para negociar".